Kirkenes - Noruega

Kirkenes. Uma jornada até o extremo norte em busca da aurora boreal

Você já ouviu falar de Kirkenes, na Noruega? Para ser bem sincero, antes de começar a planejar essa viagem, eu mesmo mal sabia onde ficava no mapa. No entanto, ao pesquisar um pouco mais a fundo, descobri que visitar Kirkenes é praticamente como ir ao fim do mundo — e foi exatamente isso que despertou em mim uma curiosidade irresistível.

Localizada no condado de Finnmark, em uma região remota e extremamente gélida da Noruega Ártica, Kirkenes está quase colada à fronteira com a Rússia e também com a Finlândia. Embora seja uma cidade pequena, com pouco mais de 3.500 habitantes, Kirkenes oferece uma estrutura surpreendente para quem viaja em busca de experiências diferentes. Há bons hotéis, cafés acolhedores, restaurantes simpáticos, museus interessantes e, claro, o famoso Snowhotel Kirkenes.

Diferentemente das cidades mais turísticas da Noruega, Kirkenes foge completamente do óbvio. A cidade combina a cultura do povo sami, a forte influência russa por conta da proximidade com a fronteira e aquele clima ártico de isolamento que, de certa forma, exerce um grande fascínio. As paisagens são de tirar o fôlego: tundra congelada, fiordes silenciosos, florestas cobertas de neve… E, o melhor de tudo, sem multidões ao redor.

Aventura só para chegar.

Nossa chegada já começou como uma verdadeira epopeia. Partimos de Tromsø em direção a Kirkenes em um voo que já começou um tanto bagunçado. No aeroporto, quase não havia informações sobre o embarque e ninguém presente no portão. Após algum tempo de espera, uma funcionária apareceu, mas também estava sem muitas informações. Quando o pequeno turboélice finalmente pousou, os passageiros desembarcaram e nós seguimos para o embarque — caminhando na pista, sob -10 °C — e sim, as malas foram deixadas ao ar livre, sobre a neve.

Contudo, quando achávamos que tudo estava resolvido, surgiu mais um contratempo: havia um passageiro a mais dentro do avião. Isso mesmo! Como todo o processo foi feito manualmente, cada passageiro precisou ser entrevistado individualmente até encontrarem o “extra”. Depois de quase duas horas de atraso, finalmente decolamos. Apesar do tempo fechado, o voo correu bem, e a vista congelada lá de cima foi um verdadeiro espetáculo visual.

Ao aterrissarmos em Kirkenes, nos deparamos com um aeroporto que mais parecia uma rodoviária de interior. Não havia ninguém nos guichês. Havíamos reservado um carro, mas também não havia atendimento no balcão da locadora. Após uma ligação, nos informaram que a chave estaria em uma caixa com senha. Até aí tudo certo, no entanto, encontrar o carro no estacionamento coberto de neve foi outro desafio à parte.

A cidade de Kirkenes

A primeira impressão foi a do silêncio absoluto. Kirkenes é, sim, uma cidade pequena, mas muito acolhedora. Suas ruas são calmas e estão cercadas por montanhas nevadas, criando uma paisagem digna de filme. É o tipo de lugar onde você se sente completamente desconectado do mundo — o que, nesse contexto, era exatamente o que procurávamos.

Nosso objetivo principal era claro: ver a aurora boreal e conhecer o famoso hotel de gelo. No entanto, logo percebemos que Kirkenes tinha muito mais a oferecer do que imaginávamos inicialmente.

Um mergulho na história: Os bunkers da Segunda Guerra Mundial.

Para nossa surpresa, Kirkenes foi uma das cidades mais bombardeadas da Noruega durante a Segunda Guerra Mundial. Descobrimos isso durante a visita a um pequeno museu local, que conta essa parte pouco conhecida da história do país. Apesar de rápida, a visita foi extremamente interessante e deu um contexto histórico inesperado para a nossa jornada.

Snowhotel e a magia dos huskies.

O Snowhotel é, sem dúvida, uma das maiores atrações da cidade. Ele está localizado a apenas 10 minutos do centro de Kirkenes e o cenário ao redor é surreal: tundra branca até onde os olhos alcançam, silêncio absoluto e aquela deliciosa sensação de isolamento completo.

Vale mencionar que o hotel não é totalmente feito de gelo. Existe uma ala construída inteiramente com neve compactada e blocos de gelo — onde ficam os quartos e os corredores —, mas há também chalés confortáveis, recepção aquecida, restaurante e outras áreas bem estruturadas.

Fomos para passar o dia e aproveitar tudo o que o espaço oferece: huskies, renas e, claro, o próprio hotel de gelo. Eles têm cerca de 180 huskies, e muitos deles ficam disponíveis para interação com os visitantes. A experiência é encantadora. Eles agem como cães carentes e brincalhões. Já havíamos tido uma experiência anterior com trenó puxado por huskies, mas, dessa vez, preferimos apenas brincar com eles.

Visitamos o hotel de gelo por dentro e ficamos impressionados com a estrutura. Cada escultura nos quartos e corredores era mais incrível do que a anterior. Como elas são redesenhadas todos os anos, há sempre um fator surpresa para quem decide voltar. Além disso, os funcionários foram extremamente simpáticos e nos explicaram em detalhes como tudo funciona — inclusive como dormir confortavelmente a -4 °C. E sim, acredite: é mais confortável do que parece, especialmente se compararmos com o frio lá fora!

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Continuando a caça à aurora boreal.

Naquela noite, seguimos para mais uma missão: caçar a aurora boreal. Um dos pontos recomendados ficava a apenas 15 minutos do centro da cidade. Chegamos à beira do mar, em um local com visão completamente aberta do céu. Para nossa sorte, não levou nem cinco minutos até que as luzes começassem a dançar.

Essa foi a nossa quarta aurora — e, com certeza, a mais intensa até aquele momento. O céu foi completamente tomado por faixas verdes e roxas, em constante movimento. Ficamos mais de meia hora observando aquele espetáculo, num frio que, embora cortante, se tornava insignificante diante da beleza à nossa frente.

Tentamos então seguir até uma montanha próxima, na esperança de encontrar mais luzes, mas a aurora simplesmente desapareceu. Apesar disso, estávamos felizes. No entanto, também havia uma certa ansiedade. Devido ao mau tempo, nossa próxima etapa da jornada estava ameaçada.

A espera pelo navio da Hurtigruten.

O grande problema era que o navio da Hurtigruten, o Coastal Express South, não conseguia chegar a Kirkenes nos últimos quatro dias por causa de uma tempestade. Na véspera do embarque, passamos a madrugada monitorando o trajeto da embarcação. Por volta das 2h da manhã, vimos que ela havia cruzado a pior parte da tempestade e entrado no fiorde mais protegido. Isso nos deu esperança e, para nossa alegria, ele finalmente chegou!

Embarcando rumo ao sul da Noruega.

O embarque foi mais uma pequena aventura. Não existe um terminal de passageiros em Kirkenes, apenas um ponto de parada do navio. Estava nevando bastante e fazia -10 °C. O navio atrasou mais de uma hora e, após sua chegada, ainda tivemos que esperar cerca de 40 minutos para o desembarque dos passageiros.

Finalmente embarcamos e nos acomodamos em nossa cabine, prontos para seguir viagem rumo ao sul.

Como é o Coastal Express – South?

Diferente dos cruzeiros tradicionais, o Coastal Express é também um meio de transporte local. Portanto, o foco não está nas atrações a bordo, mas sim nas paisagens e na experiência. O navio conta com salões de convivência, cafés, restaurantes, além de algumas excursões e apresentações sobre a história local.

Nosso objetivo a bordo era claro: continuar buscando a aurora boreal e, ao mesmo tempo, contemplar os fiordes noruegueses. Porém, logo no primeiro dia, fomos avisados de que enfrentaríamos uma das partes mais difíceis da viagem — mar aberto, sem proteção dos fiordes e previsão de ondas de até 4 metros.

Sem dúvida, essa foi a noite mais difícil da jornada. O barco balançava tanto que passei muito mal. Além disso, como estávamos no escuro, mal conseguíamos ver os fiordes. No entanto, em alguns portos, o navio fazia paradas longas, o que nos permitia descer e explorar rapidamente pequenas cidades.

A última aurora da viagem.

Na segunda noite a bordo, recebemos um alerta: aurora boreal à vista! Corremos para o deck superior e fomos presenteados com o espetáculo mais bonito de toda a viagem. Essa foi nossa quinta aurora — e a mais intensa. O céu parecia em chamas, num balé colorido que durou cerca de 50 minutos. Mal sabíamos que seria a última.

No quarto dia, cruzamos o Círculo Polar Ártico em direção ao sul e, com isso, deixamos para trás a zona da aurora boreal.

O retorno da luz.

Após dez dias sem ver o sol, finalmente a claridade voltou. Ver o sol surgindo entre os fiordes foi emocionante e nos deu um novo ânimo para continuar. As paisagens ganharam nova vida, e pudemos contemplar com mais clareza toda a beleza da costa norueguesa.

Chegada em Bergen.

E assim, depois de uma jornada intensa, cheia de desafios, surpresas e paisagens inesquecíveis, chegamos a Bergen. O coração estava cheio de memórias — e a câmera, de fotos espetaculares. A caçada à aurora boreal havia terminado, mas a experiência vivida no Ártico certamente ficará marcada para sempre.